EM FOCO

Reynaldo Goto

Entrevista com Reynaldo Goto

CCO (Chief Compliance Officer) da BRF

junho, 2020

Na sua opinião, quais são os benefícios práticos que uma empresa e seus colaboradores obtém ao implementar um programa de compliance?

Um ambiente transparente, com discussões maduras sobre a conduta esperada de todos os funcionários, e um correto mapeamento dos riscos são benefícios diários que todos os Sistemas de Integridade podem trazer.

Os benefícios podem ainda ser segmentados de acordo com o tamanho da empresa, sua área de atuação e características organizacionais. Para as grandes empresas, principalmente listadas no mercado de capital, o acesso à recursos financeiros depende necessariamente de uma confiança dos investidores que cada vez mais tem exigido um maior nível de transparência e principalmente exigido a implementação de Sistemas de Integridade. Essa imposição é automaticamente estendida a pequenas e médias empresas que fornecem às grandes empresas.

Especificamente no mercado brasileiro, muitos estados definiram regras específicas exigindo a implantação de Programas de Integridade no processo de compras públicas. Apesar de haver ainda um pouco de polêmica, essas medidas também demonstram benefícios financeiros para as empresas adotarem melhorias em suas governanças.

Quais os principais desafios enfrentados pelas empresas para conferir efetividade aos programas?

Dentre os vários desafios para a efetividade dos Sistemas de Integridade normalmente destaco o correto mapeamento dos riscos da empresa. Lembrando que a percepção e classificação do risco são de responsabilidade da Alta Administração e não do Compliance Officer, obviamente cabe à organização de Compliance fomentar as discussões e trabalhar na conscientização sobre os riscos referentes às áreas de Integridade.

Uma vez devidamente mapeados os riscos, o tamanho da organização, políticas e procedimentos, controles e ferramentas devem ser compatíveis com a exposição aos riscos. Um desalinhamento entre os riscos e os recursos e ferramentas também prejudicam a efetividade dos programas.

Por fim, mas não menos importante, a questão cultural também é fundamental para conferir efetividade ao programa; por vezes mais importante que o comprometimento da Alta Administração ou engajamento do Compliance Officer, o comportamento diário da gerência imediata determina a efetividade do Sistema de Integridade.

Qual seria o papel do compliance officer?

O principal papel do Compliance Officer é administrar o Sistema de Integridade da empresa, esse profissional deve fomentar a discussão interna e também ser responsável por identificar, mitigar e gerenciar os riscos relacionados às violações do código de conduta da empresa.

Os grandes esforços do Compliance Officer devem estar na prevenção através de comunicação, treinamentos, publicação de políticas e procedimentos além das análises reputacionais dos parceiros de negócios da empresa.

Além da prevenção, também são necessários esforços do Compliance Officer para a correta detecção de eventuais desvios de conduta dos funcionários da empresa. A utilização de canais de denúncias e ferramentas de monitoramento são fundamentais para uma efetividade nesse processo de detecção. Como parte da consolidação da cultura organizacional, também faz parte das atividades do Compliance Officer garantir uma correta resposta aos eventuais desvios de condutas.

Existem técnicas para medir a capacidade do programa de impulsionar positivamente comportamentos ou reduzir as infrações econômicas?

As diferentes técnicas de aferição irão depender de cada empresa, sua cultura e o mercado onde esta atuando. Tipicamente a participação nos treinamento e a receptividade às campanhas de comunicação dão um indicativo do comportamento dos funcionários da empresa. No caso das empresas que tenham canais de denúncias, não apenas o número de chamados, mas a maturidade das denuncias também são um indicativo de como o Sistema de Integridade pode impulsionar positivamente o comportamento dos funcionários. Um outro exemplo de indicador seria a aderência das sanções disciplinares à política de consequência da empresa, demonstrando assim a eficiência do Sistema para redução das infrações.

De que maneira a tecnologia pode ser útil no combate e/ou prevenção da corrupção?

Em um mercado cada vez mais dinâmico e digital a utilização de tecnologia é mandatória para o efetivo combate e prevenção da corrupção. Sem a devida utilização de ferramentas de processamento de dados e modelos preditivos torna-se quase impossível a gestão de um sistema efetivo.

Frente às adversidades da pandemia, principalmente com as limitações de mobilidade, as ferramentas tecnológicas também se tornaram mandatórias não apenas para permitir a correta comunicação mas também para possibilitar os treinamentos remotos de todos os funcionários e terceiros.

Com o aumento da maturidade dos Sistemas de Integridade, aumentam também as demandas, consultas e verificações da organização de Compliance. Frente a esse cenário, as ferramentas digitais ágeis também permitem a devida velocidade para análise e resposta das demandas.

Também com relação ao acolhimento e tratamento de denúncias, as ferramentas digitais são fundamentais possibilitando o anonimato, a integridade dos dados e efetiva busca por evidências.

Quais são os principais desafios dos profissionais de compliance na era da Covid-19?

O isolamento imposto pela pandemia impuseram alguns desafios adicionais como limitações de mobilidade para diligências e treinamentos, todavia também permitiram reflexões e melhorias nos processos de análise e modelos preditivos.

Infelizmente junto com a pandemia também surgiram novos modelos de fraudes, principalmente as fraudes digitais que vem exigido novos esforços no combate às fraudes.

Finalmente a pandemia também trouxe um aumento da desigualdade e consequentemente novas demandas para as empresas se engajarem ainda mais nas iniciativas sociais. Esse engajamento aumenta a exposição de riscos e consequentemente exige uma maior agilidade e diligência dos profissionais de Compliance.